sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Receita para 2015

Algumas pessoas neste pequeno planeta são mesmo admiráveis, tenho algumas delas muito próximas, outras que passaram por minha vida deixando um exemplo, uma lição única que me fez o que sou hoje.

No campo mais cientifico tenho alguns personagens incríveis que me inspiram ao longo do caminho como Leucipo e Demócrito, Galileu, Faraday, Tesla, Feynman, Marie Curie, Newton e muitos outros, mas é um outro grupo de pensadores incríveis que toca a alma  e  que sempre tem as palavras certas para meus momentos mais profundos.

Um deles é o notável farmacêutico brasileiro que conseguiu preparar os melhores remédios para curar a alma das pessoas,  o inestimável Drummond de Andrade

E é deste farmacêutico que fica as recomendações para o ano de 2015 e todos os outros.

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

( Carlos Drummond de Andrade )
(Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 115)